CIVICOP É, APENAS E SÓ, FILIAL DO MPLA

O presidente da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, anunciou hoje que o partido decidiu abandonar a Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), por esta “desvirtuar” a sua missão e se ter transformado em “destilador do ódio”, responsabilizando o Presidente angolano, general João Lourenço.

Adalberto da Costa Júnior disse que a UNITA, o maior partido da oposição que a muito custo o MPLA ainda permite em Angola, decidiu declinar a sua participação na Comissão de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), porque o organismo permanece “refém dos interesses espúrios do regime”.

Essa situação, disse o líder da UNITA, tem sido constatada pelo partido “em diversos eventos e situações ocorridos ultimamente, não servindo, assim, para os fins que presidiram à sua criação: os da reconciliação nacional e da pacificação dos espíritos em Angola”.

Falando em conferência de imprensa, em Luanda, o presidente da UNITA fundamentou a sua posição alegando que, “nos últimos dias, o povo angolano voltou a assistir a uma incessante operação de busca e profanação de sepulturas em territórios que estiveram sob a administração da UNITA no tempo da guerra civil, fora dos marcos e regras que devem reger o funcionamento da CIVICOP”.

Adalberto da Costa Júnior aludia às reportagens encomendadas pelo MPLA e exibidas pela Televisão Pública do MPLA (TPA), que mostravam imagens da Jamba, antigo território da UNITA no período do conflito armado, onde técnicos da CIVICOP faziam escavações em busca de ossadas das vítimas, alegadamente de Jonas Savimbi, líder fundador do partido, aí sepultadas.

A CIVICOP, coordenada pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos e composta por membros do Governo, da sociedade civil, igrejas e de partidos políticos com assento no parlamento, foi criada em 2019 pelo Presidente João Lourenço, e está encarregue do plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos, que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002.

Em 2021, o general João Lourenço, na sua quadrupla qualidade de Presidente da República, Presidente do MPLA, Titular do Poder Executivo e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, pediu desculpas às famílias, em nome do Estado do MPLA. Nas suas acções, a CIVICOP tem feito entrega de supostas ossadas das vítimas, ligadas ao MPLA ou à UNITA, aos respectivos familiares.

Hoje, Adalberto da Costa Júnior referiu que a CIVICOP foi criada como um instrumento para consolidar definitivamente a reconciliação e a pacificação dos espíritos em Angola, lamentando, no entanto, que o “MPLA tem feito tábua rasa destes princípios”.

“O objectivo do regime, que se vê à vista desarmada, tem sido o de limpar e branquear as nódoas de sangue da sua própria história”, apontou.

Em contraponto, enalteceu o papel do ex-ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queirós, então coordenador do órgão, numa altura em que, frisou, “a missão da CIVICOP parecia caminhar dentro da normalidade”.

“De lá para cá, a CIVICOP tem sido, efectivamente, um órgão envolvido em permanentes ciladas e embustes. A credibilidade da CIVICOP e do Governo angolano está totalmente posta em causa, quando aqueles que levaram até ao final a verificação das ossadas, concluíram que as mesmas não pertenciam aos seus entes queridos”, assinalou Adalberto da Costa Júnior, referindo-se às queixas cientificamente provadas de incompatibilidades de amostras de ossadas das vítimas com os respectivos familiares.

Criticou ainda a acção do director do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado angolano, general Fernando Garcia Miala , que “tem feito entrega de ossadas e fecha os olhos às valas comuns do 27 de Maio em Luanda e por todo o país e lidera as campanhas de intoxicação em conjunto com a imprensa partidária”.

A CIVICOP “é hoje uma estrutura à mercê da propaganda fermentada nos laboratórios de ódio do regime. Uma correia de transmissão da pequena política destilada pelo MPLA e tendo como actores indivíduos que viraram as costas à ética, à deontologia profissional e ao espírito patriótico”, frisou.

Para Adalberto da Costa Júnior, a responsabilidade da “desvirtuação” da CIVICOP “é imputável ao Presidente da República, João Lourenço, na qualidade de titular do poder executivo”, pois o coordenador do órgão, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, “é um mero auxiliar do titular do poder executivo”.

“Ademais, o silêncio total sobre a matéria, a que se remeteu o Presidente da República, permite-nos afirmar, sem errar, que o mandante dos actos de propaganda que têm sido exibidos na TPA é o Presidente da República”, rematou o líder da UNITA.

De facto, esta missão canibalesca decretada, monitorada, ensaiada e concebida pelo MPLA é, de forma inequívoca, comandada pelo melhor especialista nacional, e um dos maiores a nível mundial, nestas matérias, o chefe do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE), general Fernando Garcia Miala.

Recentemente, recorde-se, a TPA divulgou, através de uma fonte não identificada, que os corpos de dois dirigentes da UNITA, Tito Chingunji e Wilson dos Santos, foram queimados e as ossadas trituradas para que não se pudesse ter qualquer vestígio dos cidadãos em causa, por orientação expressa de Jonas Savimbi. Na verdade, acrescentará um dia destes a TPA, para além de trituradas, as ossadas foram espalhadas por centenas de locais diferentes, tendo depois esses locais sido também triturados e dispersos…

BRANQUEAR O MAIOR GENOCIDA DE ANGOLA

O Presidente angolano, general João Lourenço, reiterou o compromisso do seu Governo de continuar a procurar os restos mortais das vítimas dos massacres de 27 de Maio de 1977, ordenados pelo Presidente do MPLA e da República e único herói nacional imposto pelo MPLA, Agostinho Neto, e a respeitar as conclusões dos especialistas sobre a identificação. Recordam-se?

Em entrevista conjunta à Lusa e ao Expresso, João Lourenço respondeu às alegações dos familiares de algumas daquelas vítimas de que os restos mortais que lhes foram entregues não correspondiam às pessoas indicadas, depois das análises de ADN: “É um trabalho de muita paciência, de muito rigor, a única garantia que nós damos é que nós, as autoridades do país, submetemo-nos às conclusões do exame científico que os especialistas fizerem”.

Em causa estavam os restos mortais, entre outros, dos dirigentes José Van-Dúnem, Sita Valles e Rui Coelho, detidos e mortos durante os massacres de 27 de Maio de 1977.

Rui Coelho era chefe de gabinete do então primeiro-ministro, Lopo do Nascimento, Sita Valles já tinha sido afastada do MPLA e estava a trabalhar num hospital como médica e José Van-Dúnem era comissário político, embora dias antes tivesse sido expulso do Comité Central, juntamente com Nito Alves, o mais proeminente elemento do grupo.

Os seus familiares foram notificados no ano passado do local onde supostamente se encontravam as suas ossadas, mas um exame forense realizado entretanto em Portugal acabou por constatar que o ADN dos familiares não coincidia com o dos restos mortais.

O facto levantou suspeições sobre as intenções do Governo angolano, mas João Lourenço alegou (ou não fosse uma santa e impoluta virgem) que a realização desses exames serve exactamente para confirmar ou não as identidades supostas.

“Haverá com certeza casos em que se pensa que determinados restos mortais são da família A e da família B e o exame vir a concluir que não, o que é uma coisa absolutamente normal”, afirmou.

Mas, “o que não se pode à partida é vir a público dizer que houve a intenção deliberada do Governo enganar a A ou a B. Eu sei de que caso se está a referir, acho que não é justo o que se está a fazer com Angola”, respondeu o chefe de Estado.

João Lourenço também nega que o seu Governo tenha recebido alguma acusação formal relativa a este assunto. Mas, se tal acontecer, “não temos nada a esconder”. Pois não, neste caso, os restos mortais qua ainda existirem estão bem escondidos.

“Os especialistas são a autoridade competente para dizer que esses restos mortais coincidem com os da família A ou com a família B e são livres de exprimir as conclusões do seu trabalho. É ou não é. No caso, disseram que não é, tudo bem, não é. Vamos continuar à procura. Pode ser que se venham a encontrar os verdadeiros restos mortais”, assegurou.

E conclui: “Portanto, nós nunca vamos contra os resultados dos especialistas” e “insistir que é mesmo esta” a vítima. “Não, se os especialistas disserem que não é, não é. Foi esta atitude que nós tomámos até à presente data”.

Em Março, uma associação que representa os órfãos do 27 de Maio acusou, numa carta aberta, o governo de se ter aproveitado da entrega dos restos mortais para fazer campanha.

Numa “carta a Angola”, os órfãos denunciam a “máquina de propaganda” do Governo angolano e da CIVICOP, ao realizar cerimónias fúnebres e entregar corpos “em cerimónias públicas amplamente televisionadas, em véspera de eleições presidenciais”, que descreveram agora como “um exercício de crueldade”.

“O país viu. Todo o país viu e viveu esse momento como um tempo de verdade e reconciliação. Porém, nem todos recebemos acriticamente os restos mortais que nos foram indicados como pertencentes aos nossos pais. Alguns de nós pediram a realização de testes de ADN para confirmar a identidade dos cadáveres”, explicavam no documento.

Definitivamente, Angola deixou de ser um país e passou a ser, apenas e só, um reles bordel muito, mas muito mesmo, mal frequentado. Basta ver que o MPLA, ou seja João Lourenço, determinou que o novo Aeroporto Internacional de Luanda se chamasse “Dr. António Agostinho Neto”. Talvez seja uma inofensiva homenagem ao genocida, ao assassino, que mandou matar milhares e milhares de angolanos…

O Presidente general João Lourenço pediu em 26 de Maio de 2021 desculpas em nome do Estado angolano pelas execuções sumárias levadas a cabo nos massacres de 27 de Maio de 1977, salientando que se trata de “um sincero arrependimento”. Mas, é claro, o assassino responsável pelos massacres, Agostinho Neto, continua incólume e a ser, por imposição expressa de MPLA, o único herói nacional. É fartar vilanagem.

“Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, disse o chefe do executivo e líder do MPLA.

João Lourenço dirigia-se ao país numa comunicação transmitida pela sua televisão privativa e privada (TPA) na véspera da passagem dos 44 anos sobre os massacres de milhares e milhares de angolanos, ordenados por Agostinho Neto, então Presidente da República Popular de Angola e Presidente do MPLA e ainda hoje considerado oficialmente o único herói nacional, em 27 de Maio de 1977, que foi pela primeira vez assinalado com uma homenagem em memória das vítimas, mas sem beliscar a imagem do seu principal responsável.

“O pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras e reflecte um sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angústia que estas famílias carregam por falta de informação quanto aos seus entes queridos”, acrescentou.

O pedido de desculpas era uma reclamação dos sobreviventes e das organizações que representam as vítimas e os seus descendentes, agrupadas na Plataforma 27 de Maio.

Em Angola, o Dia do Herói Nacional é uma comemoração partidária transformada, por força da ditadura, em nacional angolana em memória do nosso maior… genocida, do nosso maior… assassino, António Agostinho Neto.

Estávamos a 17 de Setembro de 2016. O então ministro da Defesa de Angola e vice-presidente do MPLA, general João Lourenço (alguém sabe quem é?), denunciou tentativas de “denegrir” a imagem de Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano.

João Lourenço discursava em Mbanza Congo, província do Zaire, ao presidir ao acto solene das comemorações do dia do Herói Nacional, feriado alusivo precisamente ao nascimento de Agostinho Neto.

“A grandeza e a dimensão da figura de Agostinho Neto é de tal ordem gigante que, ao longo dos anos, todas as tentativas de denegrir a sua pessoa, a sua personalidade e obra realizada como líder político, poeta, estadista e humanista, falharam pura e simplesmente porque os factos estão aí para confirmar quão grande ele foi”, afirmou o general João Lourenço, hoje presidente do MPLA, da República (do MPLA) e Titular do Poder Executivo (do MPLA), certamente já perspectivando em guindá-lo a figura de nível mundial. Hitler, Putin e Netanyahu que se cuidem…

“A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinformação, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importantes da Luta de Libertação Nacional, particularmente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto”, afirmou o Bureau Político.

Na intervenção em Mbanza Congo, João Lourenço, que falava em representação do seu então querido, carismático e divino chefe, o “escolhido de Deus” e chefe de Estado, José Eduardo dos Santos, sublinhou que Agostinho Neto “será sempre recordado como lutador pela liberdade dos povos” e um “humanista profundo”.

“Como atestam as populações mais carenciadas de Cabo Verde, a quem Agostinho Neto tratou gratuitamente, mesmo estando ele nas condições de preso politico. É assim como será sempre lembrado, por muitas que sejam as tentativas de denegrir”, afirmou – sabendo que estava a mentir e a ser conivente com um dos mais hediondos crimes cometidos em África – o então ministro da Defesa e hoje Presidente da República.

“Em contrapartida”, disse ainda João Lourenço, os “seus detractores não terão nunca uma única linha escrita na História, porque mergulhados nos seus recalcamentos e frustrações, não deixarão obra feita digna de respeito e admiração”.

“Não terão por isso honras de seus povos e muito menos de outros povos e nações. A História encarregar-se-á de simplesmente ignorá-los, concentremos por isso nossas energias na edificação do nosso belo país”, disse João Lourenço.

Terá João Lourenço alguma coisa, séria, honesta e reconciliadora a dizer aos angolanos sobre os acontecimentos ocorridos no dia 27 de Maio de 1977 e nos anos que se seguiram, quando milhares e milhares de angolanos foram assassinados por ordem de Agostinho Neto? Pedir desculpa em nome do Estado não chega. Chegaria, estamos em crer, se colocasse Agostinho Neto no nível a que o Estado alemão colocou Adolf Hitler.

Numa só palavra, quando este MPLA sente o poder ameaçado, não hesita: humilha, assassina, destrói, elimina, atira aos jacarés. É a sua natureza perversa demonstrando não estar o MPLA preparado para perder o poder e, em democracia, com a força do voto se isso vier a acontecer, a opção pela guerra será o recurso mais natural deste partido, não é general João Lourenço?

“Não vamos perder tempo com julgamentos”, disse no pedestal da sua cadeira-baloiço, o maior genocida do nacionalismo angolano e da independência nacional, Agostinho Neto. João Lourenço sabe que isto é verdade, mas – apesar disso – enaltece o assassino e enxovalha a memória das vítimas. E isto não é, nunca será, “um sincero arrependimento”.

Desde 1977 que Angola, o Povo, aguarda pela justiça, mas com as mentes caducas no leme do país, essa magnanimidade de retratação mútua, para o sarar de feridas, não será possível, augurar uma Comissão da Verdade e Reconciliação, muito também por não haver um líder em Angola. Apenas existem pigmeus intelectuais que, por serem donos do país, julgam ter direito em transformar Angola naquilo que ela é hoje – um reino esclavagista.

Folha 8 com Lusa

Artigos Relacionados